20 de novembro de 2020

Aventuras Heróicas: O HeroQuest Brasileiro

Aventuras Heróicas: O HeroQuest Brasileiro

Em novembro de 1991 aconteceu a primeira Bienal Internacional de Quadrinhos. O evento, que depois evoluiu para o FIQ, marcou a chegada oficial do RPG à Pindorama, com o lançamento da edição nacional de GURPS pela Devir.

Já existiam pioneiros do RPG por essas bandas — a galera da famigerada “geração Xerox” —, mas o sistema de Steve Jackson foi o primeiro em português brasileiro; isso, vale lembrar, aconteceu antes até de Tagmar, que é o primeiro RPG nacional, mas foi lançado um mês mais tarde.

Naquela primeira edição da bienal, há 29 anos, a IDD Miniaturas também aproveitou o evento para lançar seu Aventuras Heróicas, um jogo de tabuleiro com miniaturas de chumbo que, apesar de não ser RPG, permitia “a seus jogadores participarem de um mundo fantástico, baseado em Lendas e Mitos Antigos”.

Aventuras Heróicas: O HeroQuest Brasileiro

Criado por Átila Freire e Anna Fukumura, com ilustrações de Diucênio Rangel, Aventuras Heróicas é um dungeon crawler bastante simples, cujas regras — divididas entre o Livro do Jogador e o Livro do Mestre — ocupam 10 páginas em tamanho A5, descontadas as listagens de monstros, magias e equipamentos.

O jogo é projetado para 2 a 5 jogadores, pois possui uma dinâmica semelhante à dos RPGs tradicionais, em que uma pessoa fica a cargo do papel do Mestre, coordenando o tabuleiro e o elenco de vilões, enquanto os demais comandam os heróis da história; no caso específico do Aventuras Heróicas, o mestre representa as forças do “poderoso e maléfico” Kaleb — não confundir com cantor argelino Khaled —, e os outros jogadores assumem os papeis dos tradicionais guerreiro, anão, clérigo e/ou elfo.

Aventuras Heróicas: O HeroQuest Brasileiro

Aventuras Heróicas tem uma mecânica de jogo de tabuleiro bem forte, com os dados de 6 faces sendo usados até para determinar o número de casas que um personagem poderá se mover no seu turno. O combate é bem simples: o atacante rola uma derminada quantidade de dados, e aqueles que saírem com 4 ou mais representam um dano ao oponente; a defesa é semelhante, mas o dano é anulado a cada 5 ou 6 tirados.

O jogo base vem com cinco aventuras que representam os níveis de uma masmorra a ser explorada para o resgate da princesa Ann, filha do rei Martin, das remotas terras de Veluma. Cada uma dessas aventuras explora determinadas seções do tabuleiro, com diferentes tipos de monstros surgindo a cada nível atingido pelos heróis, mas a maioria delas, infelizmente, coloca os jogadores vagando por uma boa quantidade de salas vazias, o que é bem sem graça, sejamos sinceros.

Aventuras Heróicas: O HeroQuest Brasileiro

Quando HeroQuest foi lançado pela Estrela, em 1994, eu não dei a mínima, porque aquilo era “brinquedo de criança” e eu, quase um adulto na altura dos meus 17 anos, tinha que jogar RPG de verdade; esse jeito de pensar era uma baita idiotice, eu sei, mas era bem comum. Entretanto, vale lembrar que nem o próprio AD&D eu andava jogando direito

Esse fato de nunca ter jogado o HeroQuest me garantiu um bônus no saving throw contra o hype recente de relançamento do jogo, mas o pouco que eu conheço dele me permite dizer que o dungeon crawler publicado pela extinta IDD Miniaturas era uma cópia descarada do board game criado por Milton Bradley, a começar pelos atributos dos personagens, passando pelo sistema de combate, peças de mobiliário da masmorra e chegando ao elenco de monstros, que são praticamente os mesmos: goblins, orcs, esqueletos, múmias, zumbis e Guerreiros do Caos; faltou só um Fimir, mas ninguém entende essa criatura bizarra.

Aventuras Heróicas: O HeroQuest Brasileiro

Embora seja um jogo de tabuleiro, Aventuras Heróicas foi minha primeira experiência marginalmente relacionada ao RPG, e isso faz com que ele desperte em mim um saudosismo semelhante ao que o HeroQuest desperta em muita gente. O jogo é cru e parece ter sido desenvolvido às pressas para o lançamento na primeira Bienal Internacional de Quadrinhos, mas o objetivo da IDD Miniaturas, a primeira fábrica brasileira de miniaturas metálicas, era claro: vender mais miniaturas.

Mesmo com a expansão, que trazia a princesa Ann como uma personagem jogável, Aventuras Heróicas tinha menos aventuras que a caixa básica do HeroQuest e, de maneira semelhante ao original, enjoava rapidamente. Não lembro se chegamos a jogar todas essas aventuras, mas acabamos abandonando o jogo quando a sétima edição da Dragão Brasil trouxe o artigo Chumbo Neles!, que alertava de forma bem enfática para o risco de contaminação pelo chumbo das miniaturas, rebatendo informações de um texto da extinta Dragão Dourado, uma revista publicada pela própria IDD Miniaturas, e outro publicado por Marcos Mulatinho, o fundador da fábrica de miniaturas, na também extinta The Universe of RPG, da qual ele era editor.

Se os malucos que fizeram parte da IDD Miniaturas voltassem à atividade, relançando o Aventuras Heróicas com miniaturas de resina, por exemplo, meu saving throw nesse caso seria com penalidade, mesmo que continuassem esquecendo das regras que ficaram para “edições futuras do jogo”…

- Ouvindo: Thees Uhlmann - Zum Laichen und Sterben ziehen die Lachse den Fluss hinauf