Como jogar RPG Solo? Eu já falei um pouco sobre isso antes, mas não custa repetir: de forma bem direta, para quem já tem familiaridade com RPG, basta escolher um sistema favorito e juntar com um emulador de Mestre ou oráculo simples. É uma receita básica, mas que pode acabar pedindo por outros componentes, como geradores de aventuras, geradores de masmorras, entre outros materiais de apoio que podem acabar tornando a experiência um pouco opressiva.
Em contrapartida a essa fórmula base, pessoas já acostumadas com o RPG podem encarar sistemas puramente solo como o RONIN e o Cybercidades e Synthwave, ou sistemas sem mestre como o Nômades, o A Herança de Cthulhu e o Ironsworn, pois esses sitemas já trazem em um único lugar tudo o que uma pessoa pode precisar.
Para quem nunca jogou RPG na vida e já quer (ou precisa) começar em modo solo, minha sugestão seria algum dungeon crawler mais direto ao ponto, como o NoteQuest ou o Advanced Aventuras Heróicas (Solo). Pode-se argumentar que esses dois exemplos não são RPGs, mas é possível utilizá-los como ponto de partida.
Um modo de RPG Solo totalmente diferente do tradicional RPG de mesa são os jogos que colocam o jogador no papel de alguém que está escrevendo cartas, como no Quill, ou registrando um diário, como no Perdido nas Profundezas.
Muitos jogos de diário, entre eles o já citado Perdido nas Profundezas, são “filhos” do The Wretched, um jogo em que você é o único sobrevivente da tripulação de uma espaçonave atacada por uma forma de vida alienígena hostil, como no filme Alien.
Nesses jogos, e em outros não baseados no Wretched & Alone SRD, muito das mecânicas se resume ao sorteio de perguntas que devem ser respondidas na pele do personagem. Isso faz com que, rapidamente, você esteja jogando, mas traz o custo de exigir bastante da criatividade do jogador, o que não é desvantagem nenhuma, pois estamos falando de RPGs, né não?
Recentemente eu encarei dois RPGs de escrita de diário: The Case, um jogo de horror cósmico no qual você é um(a) detetive investigando um assassinato, e To Graves Unknown, um jogo que recria o formato narrativo de podcasts de mistério sobrenatural como o Video Palace ou The Black Tapes.
The Case usa um sistema de prompts inspirado no já citado The Wretched, mas não dá para classificá-lo como um jogo Wretched & Alone, já que o baralho é separado por naipes que, por sua vez, representam os quatro arcos da história, em vez de áreas/tópicos aos quais se relacionam as tarefas e desafios que o personagem encontra.
A mecânica que achei mais interessante nesse jogo foi a das memórias e eventos, inspirada no Thousand Year Old Vampire. Como a quantidade de memórias é limitada assim como os eventos que compõem cada uma, quando o jogo demanda a criação de um novo evento e não há mais espaço livre, uma memória deve ser jogada fora, o que pode significar que o personagem, por exemplo, passou por alguma situação que o fez desenvolver uma amnésia que apagou as lembranças que tinha dos próprios pais.
To Graves Unknown também usa um sistema de prompts, mas bem mais simplificado, com apenas treze perguntas. Não há uma história básica a ser seguida, e tudo é o jogador que define a partir das três threads iniciais: o Desconhecido (para qual mistério você deve encontrar uma resposta), o Bizarro (qual experiência sobrenatural você teve, que não conseguiu explicar) e o Sinistro (como sua vida foi ameaçada de uma maneira bizarra).
De forma bem simplificada, para cada uma das threads você atribui um conjunto de dados, iniciando com um d20 para o Desconhecido, um d12 para o Bizzaro e outro d12 para o Sinistro. A cada entrada do diário, você joga os três dados e o maior determina qual pergunta deverá ser respondida para aquela thread; finalizada a entrada do diário, o dado da thread é reduzido ao próximo mais baixo: de d20 para d12, de d12 para d10, etc.
Para quem gosta de escrever, esses RPGs de escrita/diário são um prato cheio, porque ao final você pode acabar com o rascunho (ou a versão final, por que não?) de um conto, o que dá para fazer com RPGs tradicionais, embora esse não seja seu “produto final”.
- Ouvindo: 8otto - Rolling