11 de outubro de 2010

O Primeiro Mentiroso


Imagine um mundo no qual ninguém sabe mentir... Um mundo onde o próprio conceito de mentira não existe. Acrescente a isso o fato de que a verdade sempre é dita da forma mais direta, não importa o quão dura seja, e você tem o mundo em que vive Mark Bellison, o personagem de Ricky Gervais em O Primeiro Mentiroso (The Invention of Lying), filme co-escrito e dirigido pelo ator.

Nesta realidade alternativa em que todos falam apenas a verdade, a ficção não existe. Ninguém usa a imaginação, afinal de contas, e somente os fatos importam. Isso faz com que as pessoas prendam-se ao que é concreto e prático, tornando-se frias, objetivas e incapazes de enxergar no outro nada além de sua aparência, o que acontece também em nossa realidade, mas por motivos mais fúteis.

Como ninguém mente, nada do que se diz é contestado, por mais absurda que a afirmação seja. Seu cérebro não está preparado para mentir e, como consequência, para duvidar. Assim, se alguém disser a você que possui a pele esverdeada, você acreditará, mesmo vendo que ela possui a pele azul. Essa dinâmica dá o tom do filme a partir do momento em que Mark Bellison descobre-se capaz de mentir, e passa a utilizar desse "poder" para conseguir tudo que queria, como recuperar seu emprego de roteirista e ter fama e fortuna.

Entretanto, é ao dizer algumas palavras de conforto à sua mãe que o personagem acaba transformado em uma espécie de profeta, pois a pequena mentira que diz ganha vulto ao trazer à tona dúvidas que até então ninguém tivera neste mundo paralelo, como a existência de vida após a morte, ou até mesmo a existência de um criador onipotente e invisível.

Apesar de se valer de alguns clichês, como o do cara feio que se apaixona pela garota bonita, O Primeiro Mentiroso é um filme que foge um pouco do padrão, pois a "moral da história" é subvertida, e a mentira transforma-se na grande virtude do herói.