21 de junho de 2008
Pequena Miss Sunshine
Há algum tempo queria falar sobre um filme que já vi muitas vezes e que é surpreendente.
Estou falando de “Pequena Miss Sunshine”. O Filme é de 2006 e todos os atores estão deslumbrantes em suas atuações.
O filme conta a história de uma família peculiar: o pai se considera um guru de autoajuda, escreveu um livro com nove passos para alcançar o sucesso, mas não consegue publicá-lo; a mulher parece não acreditar no marido; o pai dela é drogado e mora com eles; o casal tem dois filhos, um adolescente que está sem pronunciar uma única palavra há meses, acreditando que isso o fará realizar seu grande sonho que é ser piloto; a filha Olive é uma criança que sonha em ganhar um concurso de beleza; o cunhado vai passar um tempo na casa da irmã, depois de tentar o suicídio.
O grande ponto da história acontece quando a família recebe um telefonema, dizendo que Olive ganhou uma vaga para participar do concurso Little Miss Sunshine. A família se reúne e parte numa Kombi velha a caminho da Califórnia.
Ok, parece que eu contei o filme todo né?! Mas não. O filme é surpreendente, e eu queria falar sobre a relação neurotizante dessa família, onde todos se vêm todos os dias, mas nunca se enxergaram de verdade.
Pra começar, o casal mal se olha, brigam na frente dos filhos, ela não acredita nele e ele se acha um profissional competente, quando na verdade é ridicularizado.
A relação com os filhos também chama a atenção. Como eles podem achar normal que o menino não fale nada?! Ele apenas escreve num pedaço de papel as coisas que acha que devem ser respondidas, mas ninguém se preocupa em sentar com esse adolescente que, só pelo fato de estar nessa fase, já deve ter muitas questões. Mas nem o pai nem a mãe acham isso estranho, e até têm orgulho do filho conseguir se manter firme no seu propósito, que é o de não falar até conseguir o que deseja.
Olive, que sonha em ser coroada a “Pequena Miss Sunshine”, é coreografada pelo avô. A relação dos dois é bonitinha, o avô tem carinho com a neta, mas ele é completamente louco e ninguém da família é autorizado a ver a coreografia que montaram.
Ou seja: ali cada um se preocupa com si e, aliás, acho que nem com eles mesmos. Eles vão vivendo a vidinha sem olhar pro lado; tanto é que o avô é viciado em cocaína e eles não sabem.
Quando o cunhado vai morar com a família, ele se assusta com essa dinâmica, onde ninguém se olha de verdade, onde não tem conversa, cuidado. Mas o próprio cunhado é uma pessoa complicada.
Enfim, vivemos numa época em que esse “modelo” de família não é raro, infelizmente. A correria do dia-a-dia transformou os familiares em meros colegas, que coabitam os mesmo lugares, mas que não se respeitam no sentido de saberem quem é quem ali, que todos têm igual importância nessa dinâmica. As pessoas estão fragmentadas, repartidas, preocupadas com outras coisas.
Os valores mudaram: os adultos parecem crianças e vice-versa. Numa das cenas, inclusive, quem vai solucionar um problema é exatamente a criança, e os adultos ficam paralisados diante no não-saber agir.
O avô se droga para não pensar no que se transformou sua vida. É melhor se manter “afastado” da verdade porque ela pode assustar à primeira vista e, num mundo em que só se privilegia o bem-estar imediato e a felicidade, lidar com algo que incomoda é paralisante. Então é melhor não pensar, se manter distante dos seus próprios problemas e as drogas lhe permitem exatamente isso. As pessoas se tornaram covardes, têm medo de olhar pra elas mesmas, e isso não é ocasionado somente pelo uso de substâncias ilícitas. Quantas pessoas vocês não conhecem que trabalham feito loucos, que dizem não terem tempo pra nada?! Será que o tempo começou a andar mais rápido, ou somos nós que o preenchemos com tantas coisas e perdemos a satisfação de tirarmos um dia só pra gente?
A situação do cunhado também é interessante, ele é um cientista brilhante, com uma vida estabilizada financeiramente e com um namorado lindo. Um dia ele perde um prêmio, e com essa perda também perde o parceiro. Como nunca lidou com uma frustração na vida e sem saber como resolver a situação, resolve por fim à sua vida. E aí fica a pergunta: como uma pessoa pode pensar em se matar só porque perdeu uma única vez? Perder faz parte da vida, e devemos ensinar aos nossos filhos isso desde sempre.
O filme tem um final incrível, divertidíssimo, com o qual aprendemos que a união realmente faz a força, e que juntos podemos transformar o que parecia perdido em uma grande curtição.