Edu mora em uma pacata cidade do interior de Minas Gerais. Ele estuda em seu quarto, quando é surpreendido pela campainha tocando. É o carteiro, trazendo um pacote enviado por seu tio. Além de um objeto estranho, ele encontra uma carta:
Caro sobrinho Edu,
Há muito tempo não nos vemos. Não sei se você sabe, mas como professor do Instituto de Educação de Belo Horizonte, venho realizando uma importante pesquisa histórica há mais de 30 anos.
Graças a essa pesquisa, minha vida agora corre perigo. Por isso estou lhe mandando essa peça arqueológica de valor inestimável para que você a guarde em segurança até que eu resolva este mistério.
Um grande abraço do seu tio
Professor Epiphânio Valenzza
P.S. Nem pense em vir a BH!
Pode ser muito perigoso!
Ignorando o aviso, Edu parte para Belo Horizonte. Chegando lá, o jovem descobre que o tio foi sequestrado, e inicia uma busca pela capital mineira a fim de encontrá-lo.
Mudar de casa é uma experiência estressante, mas tem uma vantagem: ao empacotar tudo, você redescobre coisas das quais nem se lembrava mais. É o caso de Aventura em BH!, que até então nunca havia visto
O jogo – ou CD-ROM interativo, como ele é melhor descrito na capa – foi produzido pelo estúdio Bigjack com benefícios da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte e, talvez por isso, sofra com a necessidade quase obsessiva de apresentar alguns pontos de interesse de uma forma bem professoral.
Ao navegar pelos arquivos perdidos no disco, percebe-se que a ideia original era de, provavelmente, desenvolverem uma aventura gráfica nos moldes da LucasArts, com um sistema de verbo + objeto. Quaisquer que sejam os motivos que levaram o estúdio a abandonar essa linha, o fato é que o produto final é bem menos interativo do que se espera.
Pelo fato do estúdio contar com bons artistas, é de se estranhar a mistura de estilos para representar personagens e, principalmente, a baixa qualidade da arte. Um exemplo disso é o personagem principal, no qual tentaram emular um Tintin mineiro com um estilo linha clara bastante grosseiro, ou os cenários, que vão dos mais detalhados aos totalmente minimalistas, para não dizer desleixados.
A história, por sua vez, é muito rasteira e exige uma dose bem grande de suspensão de descrença, pois os absurdos não param em um professor do Instituto de Educação conduzindo pesquisas arqueológicas que levam à descoberta de um artefato fantástico. O pior é que, além de totalmente desconectados com a realidade, os personagens fictícios são genéricos demais, e é impossível identificá-los como sendo belo-horizontinos.
Não sei se foi por limitação da ferramenta utilizada no desenvolvimento, o antigo Macromedia Director, mas o fato é que, para piorar, não há savegame. Saiu, tem que recomeçar do zero e assistir a tudo de novo, pois não dá para pular os trechos já conhecidos. Também não há pausa nas cutscenes, e elas representam mais de 95% do tempo de "jogo". Portanto, nada de sair da para tomar água ou, como no meu caso, dar um cochilo em frente ao monitor quando as coisas estiverem meio chatas.
Com uma participação quase nula do jogador e uma insistência no tom didático, Aventura em BH! parece mais um press release animado encomendado pela prefeitura, feito às pressas. Não é à toa que nem seus criadores parecem interessados em listar o projeto em seus portfólios.
Gameplay:
- Ouvindo: The Smiths - Bigmouth Strikes Again