O que E.T. O Extra-Terrestre, Superman e Star Wars têm em comum? Além da trilha sonora composta por John Williams e do sucesso de bilheteria, todos tiveram remakes turcos. Ou quase isso.
Alguns atribuem estes remakes à censura vivida no período de ditadura na Turquia, mas talvez a história seja mais bizarra: com o objetivo de aumentar seus lucros, os distribuidores turcos assistiam às produções hollywoodianas e, em vez de comprá-las para exibição no seu país, geravam clones dos originais a toque de caixa e no menor orçamento possível. O resultado dessa picaretagem não poderia ser mais bizarro. A aberração Badi, o E.T. Turco, não me deixa mentir:
Lançado em 1982, Dünyayı Kurtaran Adam (O Homem que Salvou o Mundo) acabou ficando conhecido como o Star Wars Turco. O enredo do filme é um pouco confuso e provavelmente algo se perdeu na tradução, mas o que dá para entender do monólogo inicial é mais ou menos o seguinte: a conquista do espaço e a chegada do homem à lua deram início à Era Espacial.
Após centenas de milhares de anos, novos sistemas planetários foram conquistados e vemos o surgimento de uma nova Era Galática. A História até então é deixada para trás, e a humanidade volta-se para uma vida mais simples e, por incrível que pareça, primitiva. Ou seja: só uma maluquice dessas para explicar como uma civilização avançada passou a viver em condições semelhantes às dos trogloditas na Capadócia.
Espaço: a fronteira final.
Neste período de progresso, todas as nações, etnias e religiões terrenas foram unificadas, dando origem a um único grupo – o Povo da Terra – que se encontra ameaçado de extinção pelo uso indiscriminado de armas nucleares. Só que o problema não terminou. Em meio à confusão criada por essa gente bonita e amiga que deseja se destruir, surge um inimigo desconhecido com o objetivo de acabar com a Terra. Um detalhe: o uso das tais armas nucleares não destruiu o planeta, mas este acabou sendo desintegrado por lasers.
Para resistir aos ataques do novo inimigo, a humanidade desenvolve um escudo em volta da Terra – que agora não passa de uma nuvem de poeira, vale lembrar – feito com moléculas de cérebro humano. Para atravessá-la, o grande vilão necessita de algo do qual nem ele e nem o autor desta pérola, pelo visto, dispõem: um cérebro humano!
Não é uma lua. É... A Terra?!
O que essa insanidade tem a ver com Star Wars? Nada além do fato de que durante a introdução – toda essa confusão até agora foi apenas o monólogo inicial do filme – somos bombardeados com uma sequência frenética de cenas de arquivo de algum projeto espacial e, é claro, trechos do filme de George Lucas, com um detalhe: no filme a Terra é representada pela Estrela da Morte, algo que se explica pela barreira de cérebros. Daí não é difícil imaginar que os heróis pilotem Tie Fighters na defesa do planeta, enquanto os inimigos atacam em suas X-Wings. A cereja do bolo fica por conta do grande vilão que, pelo que dá para entender, comanda suas tropas de dentro da Millenium Falcon
Todas estas cenas "reutilizadas", é bom ressaltar, não foram inseridas no filme na mesa de montagem, mas projetadas em loop e refilmadas na cara de pau. Inclusive, são vários os momentos nos quais os "atores" aparecem em frente à projeção, só que não há praticamente interação alguma entre eles e o que está sendo exibido atrás. A tosqueira é tanta, que algumas cenas do espaço, vistas de dentro da nave dos heróis, são interrompidas rapidamente por imagens de Stormtroopers marchando e outras coisas completamente aleatórias.
"Cara, eu acho que tem um radar me perseguindo!"
A batalha no espaço termina com os Tie Fighters obliterados, e os heróis - que podemos chamar de Beavis e Butt-Head, de tão idiotas - caem em um planeta inóspito e desconhecido, apesar de estarem até então na órbita da Terra. É aí que o filme começa pra valer e fica bem mais divertido, pois mais tosco não dá para ficar...
Daí pra frente fica fácil identificar o padrão do filme: os heróis estão tranquilos até que um grupo de monstros com o pior figurino da galáxia ataca. O pau quebra, os heróis derrotam as criaturas, mas acabam fugindo porque alguém mais poderoso aparece. Entre uma pancadaria e outra, patéticas (mas bem engraçadas) cenas de treinamento se repetem, abusando do uso de cortes repetitivos e aleatórios, mandando qualquer continuidade pro espaço.
Se você esperava criaturas como as do Ray Harryhausen, contente-se com alguns turcos barrigudos...
Dünyayı Kurtaran Adam é certamente um dos piores filmes já feitos. O amadorismo e a cara de pau são tamanhos, que a produção turca é obrigatória para qualquer fã de filmes trash. Fãs de Star Wars, mesmo que apenas pela curiosidade, também podem se divertir com essa pérola, que consegue ser tão tosca quanto o Especial de Natal e cheia de furos como a Nova Trilogia.
Trailer
- Ouvindo: Man Or Astro-Man? - Antimatter Man