23 de fevereiro de 2015
Press Start - Necronomicon: The Dawning of Darkness
Criado por H.P. Lovecraft, o Necronomicon é um tomo fictício escrito por Abdul Alhazred, o árabe louco, quando este viveu em Damasco após visitar as ruínas da Babilônia e os subterrâneos de Mênfis, e passar 10 anos sozinho no Roba el Khaliyeh, o grande deserto ao sul da Península Arábica, onde encontrou as ruínas de uma cidade sem nome na qual viveu uma raça mais antiga que a humanidade.
Traduzido para o grego e posteriormente para o latim, o Necronomicon foi banido pelo Papa Gregorius IX em 1232. A maioria das cópias do livro foram destruídas, mas algumas foram preservadas e encontram-se guardadas em várias partes do mundo, entre elas a biblioteca da Universidade de Miskatonic.
Em função dos seus conhecimentos arcanos e obscuros, como o cântico para Yog-Sothoth, para abrir o portal que traria os Antigos de volta à Terra, o Necronomicon leva aqueles que o leem à loucura. Aqueles que conseguem manter sua psique inafetada, acabam sofrendo de destinos trágicos como o do seu autor, que foi devorado em plena luz do dia por um demônio invisível.
Assumidamente inspirado na obra de Lovecraft, Necronomicon: The Dawning of Darkness é uma aventura gráfica desenvolvida pela francesa Wanadoo Édition, atualmente parte da Microïds. O jogo foi lançado em 2001 para o PlayStation e PC, e mais recentemente ganhou uma versão remasterizada para iOS.
A história acontece em 1927 e se passa em Providence, cidade natal de Lovecraft. O jogador assume o papel de William H. Stanton, um jovem que recebe a visita misteriosa de um antigo amigo que, meio perturbado, lhe entrega um objeto em forma de pirâmide, com a ordem de não deixá-lo cair nas mãos de ninguém, inclusive as dele próprio!
A visão é em primeira pessoa, com rotação de 360º, mas a movimentação não é livre. É como se você estivesse dentro de uma bolha, da qual só é possível sair em determinados pontos para cair em outras bolhas, de forma semelhante ao Google Street View, só que sem a animação de transição. Um único cursor contextual centralizado no meio da tela permite a movimentação e interação com objetos e demais personagens.
Os gráficos são pré-renderizados e vão dos bem detalhados aos totalmente porcos e feitos às pressas. As cutscenes, por sua vez, são todas toscas e fazem com que o jogo envelheça mal. A falta de cuidado é tanta, que em um momento filme trash vemos o personagem, que até então estava sozinho em uma cidade subterrânea, passar correndo por um outro que nunca mais é visto.
Os problemas, entretanto, não param aí: os diálogos – todos na forma das horrendas cutscenes – são baixos e não possuem legenda, dificultando bastante o entendimento da história rocambolesca; a luminosidade no geral é baixa, mas alguns cenários são tão escuros, que jogar durante o dia é praticamente impossível, pois você não consegue enxergar absolutamente nada; para piorar, o jogo é cheio de bugs, sendo um deles "corrigido" com um savegame do momento posterior ao qual o erro ocorre.
Essa falta de cuidado com a parte técnica não se repete tanto no design dos puzzles, mas nem isso salva, porque alguns não possuem qualquer lógica ou objetivo e, apesar de forçarem uma indesejada linearidade da história, parecem ter sido jogados lá apenas para encher linguiça. Não bastasse isso, para tornar as coisas ainda mais sofridas, você é obrigado a passar por alguns labirintos não mapeáveis que, por mais que reflitam a estranha geometria lovecraftiana, apenas reforçam o desejo de abandonar a aventura gráfica de vez.
Nas histórias criadas por Lovecraft e seus seguidores o Necronomicon inspira medo e loucura. No mundo real, Necronomicon: The Dawning of Darkness está longe de causar medo, mas sua tosqueira, infelizmente, também não faz rir. O que se pode dizer do jogo, entretanto, é que assim como o tomo proibido ele me deixou louco. De raiva.
- Ouvindo: Mucca Pazza - Subtle Frenzy
Tag(s):
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