2 de novembro de 2015
De Volta a Twin Peaks - Primeira Temporada, Episódio 1
Em um rústico, mas aconchegante, quarto do hotel Great Northern, o dia começa para Dale Cooper, aproximadamente 24 horas após o corpo de Laura Palmer ter sido encontrado por Pete Martell. Entre divagações sobre suas condições de acomodação, duas dúvidas perturbam pessoalmente e profissionalmente: "O que realmente aconteceu entre Marilyn Monroe e os Kennedys, e quem realmente puxou o gatilho contra JFK?"
Na parada para o café da manhã, Cooper conhece Audrey Horne, interpretada pela bombshell Sherylin Fenn, em sua melhor fase. Audrey é da mesma turma que Laura Palmer frequentava no colégio e seu irmão – Johnny Horne, com 27 anos de idade, mas com idade mental de 3 – recebia cuidados da vítima, mas as duas não eram amigas.
A morte de Laura é recente e a investigação mal começou, mas já há muito a fazer e o agente especial Dale Cooper não quer perder tempo.
Como já comentei antes, cada episódio de Twin Peaks corresponde a, aproximadamente, 24 horas da timeline da história. Desvios no formato acabam acontecendo, mas essa é uma regra que tentaram seguir bastante à risca. Por causa disso, não é difícil imaginar que, às vezes, não aconteça praticamente nada entre um episódio e outro.
Este episódio, o primeiro da série quando não contado o piloto, apresenta os primeiros momentos da investigação, com o Dale Cooper e o xerife Truman entrevistando as pessoas relacionadas a Laura Palmer. O principal suspeito, James Hurley, era o namoradinho secreto de Laura e foi o último a vê-la viva, mas acaba liberado em função da intuição do agente do FBI, principalmente.
Vários personagens desfilam pela tela no episódio piloto, mas é a partir deste ponto que alguns ganham contornos mais definidos e até mesmo maior destaque, como a icônica Mulher do Tronco em seu primeiro e estranho diálogo. Dois outros bons exemplos são os carismáticos Dale Cooper e Audrey Horne. Cooper, até então, demonstra ser um bom e objetivo detetive, mas aos poucos descobrimos que ele é bem menos convencional do que aparenta; Audrey, a bela e problemática filha mimada de Benjamin Horne, mostra que sua atitude é muito mais fruto de um forte ressentimento com o pai. Além disso, vê-se que a postura de mulher fatal da jovem não passa de fachada para uma personalidade romântica e até mesmo infantil, praticamente no espectro oposto de Laura Palmer, cuja alma sombria se ocultava sob o manto de boa moça.
A dinâmica dos moradores de Twin Peaks, que também se aprofunda nesse episódio, parece – e é, na verdade – coisa de novela: James Hurley e Donna Hayward, a melhor amiga de Laura Palmer, descobrem-se apaixonados em meio a todo o drama da morte da rainha do baile; quando viva, Laura namorava James às escondidas, enquanto mantinha um relacionamento oficial com Bobby Brigs, o quarterback brigão; Bobby, por sua vez, tem um caso com a bela Shelly Johnson, esposa do violento Leo Johson, que está associado a Bobby e Laura em um aparente esquema de tráfico de drogas.
O que era um erro de gravação – o reflexo de um homem no espelho atrás de Sarah Palmer – virou um elemento da história e deu ao episódio piloto um dos seus momentos mais tensos. Esse homem sinistro volta a aparecer, agora de uma maneira bem mais clara, e novamente a mãe de Laura desespera-se ao vê-lo. Seja fruto de uma visão sobrenatural ou uma simples alucinação, o fato é que essa cena dá a Twin Peaks uma boa carga de terror.
Uma cena bem menos histriônica, mas muito mais soturna, ocorre quando o Dr. Hayward, pai de Donna, repassa ao xerife e a Cooper o relatório do legista sobre a morte de Laura Palmer. A violência à qual a vítima foi submetida no tenebroso vagão abandonado do cemitério de trens mostrado no piloto é citada de maneira nem um pouco explícita e gratuita, deixando a mente do espectador preencher as lacunas desse momento que foi, certamente, um dos mais aterrorizantes de toda a trama.
Diferente de outras histórias de mistério, nas quais o detetive sempre está um passo à frente do público, em Twin Peaks não faltam momentos em que elementos ocultos da trama e possíveis suspeitos são apresentados aos espectadores. Assim acontece quando a camisa ensanguentada de Leo Johnson aparece como uma possível prova do crime, e com a fita K7 em posse do Dr. Jacoby, gravada por Laura Palmer em seu último dia de vida, na qual ela cita a possibilidade de encontro com um homem misterioso e a chance de perder-se novamente pelos bosques.
Escrito por David Lynch e Mark Frost, esse primeiro – ou segundo, se preferir – episódio de Twin Peaks foi dirigido por Duwayne Dunham, o editor do episódio piloto, Veludo Azul e Coração Selvagem, que Lynch dirigiu enquanto a primeira temporada da série estava sendo rodada. A título de curiosidade, Dunham também trabalhou como assistente de edição em O Império Contra-Ataca e foi um dos editores de O Retorno de Jedi, para o qual David Lynch foi sondado a dirigir.
- Ouvindo: Portishead - Mysterons
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