9 de novembro de 2015

De Volta a Twin Peaks - Primeira Temporada, Episódio 2

De Volta a Twin Peaks - Primeira Temporada, Episódio 2

Pouco mais de 3 anos antes do assassinato de Laura Palmer, o agente especial Dale Cooper teve um sonho. Este sonho o levou a solidarizar-se com a causa tibetana, mas também deu ao agente, de forma inconsciente, uma técnica dedutiva que envolve uma "coordenação entre corpo e mente, operando em conjunção com um profundo nível de intuição".

Reunido com um seleto grupo de membros do corpo policial de Twin Peaks – xerife Truman, Lucy, agentes Hawk e Andy –, Cooper utiliza esse método heurístico peculiar para reduzir uma lista de suspeitos levantada com base em uma passagem escrita no diário de Laura Palmer em seu último dia de vida: "Nervosa por encontrar com J hoje à noite".


Diferente dos episódios anteriores, nos quais a trama se desenvolveu a partir das primeiras horas do dia, este começa na noite do dia anterior, na sequência imediata dos eventos mostrados no primeiro episódio, com uma longa e desconcertante cena de um jantar da família Horne. Não se ouve nada além do barulho de talheres, nenhuma palavra é trocada entre os presentes. O silêncio só é interrompido com a chegada de Jerry Horne, o agitado irmão do figurão Benjamin Horne.

A noite em Twin Peaks é tenebrosa. Isso fica bem claro na sequência em que Bobby e Mike embrenham por entre os pinheiros para uma transação de drogas. A cena é filmada de forma brilhante, com a iluminação limitada às lanternas dos personagens e a câmera às suas costas; a sensação de angústia e apreensão é palpável, pois a qualquer momento algo (ou alguém) pode aparecer no meio daquela escuridão absoluta. O susto, entretanto, só não acontece por uma questão de ritmo e, talvez, edição.


O dia, por sua vez, é normal – até onde isso é possível – e passa rápido nesse episódio. A escuridão retorna e com ela novas surpresas: a primeira é o fato de que, dessa vez, é Leland Palmer que demonstra sinais de que a morte da filha cobrou muito da integridade psicológica dos pais; a segunda surpresa que a noite traz se dá em uma das cenas mais memoráveis de Twin Peaks – e talvez da TV –, com o sonho de Dale Cooper, no qual o vemos mais velho em um salão coberto por cortinas vermelhas, acompanhado de um homenzinho de roupas também vermelhas e Laura Palmer... ou alguém idêntica a ela.

O episódio termina com o maior cliffhanger que poderia se ter no segundo episódio da série, pois Cooper acorda do sonho e liga para o xerife, no meio da madrugada, com a seguinte informação: "Eu sei quem matou Laura Palmer."


Apesar do mistério do assassinato de Laura Palmer ter sido apresentado no piloto da série, é neste segundo episódio que, com toda segurança, pode se dizer que Twin Peaks realmente começou, pois toda a mitologia da série se desenvolve a partir do intrigante sonho – cujas cenas foram retiradas do final alternativo filmado para o piloto – do agente Cooper no salão de cortinas vermelhas.

Esse episódio, tamanho o seu fator WTF David Lynch, é certamente uma das coisas mais estranhas – e interessantes – já produzidas para a TV. Também por isso é um divisor de águas, que acaba determinando se alguém continuará a acompanhar (ou não) o mistério do assassinato de Laura Palmer. Eu continuei e não me arrependi, mas vale reforçar: não é para qualquer um.

- Ouvindo: Phantogram - Mouthful of Diamonds

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