22 de fevereiro de 2016

De Volta a Twin Peaks - Segunda Temporada, Episódio 2


“Onde o creme de milho se encaixa no funcionamento do universo? O que realmente é creme de milho? Um símbolo para outra coisa?”
– Mulher do Tronco

Ronette Pulaski, a única sobrevivente do serial killer que vitimou Teresa Banks e Laura Palmer, acordou do coma pouco mais de uma semana após ter sido encontrada vagando pela linha do trem, completamente em choque.

A garota ainda não recuperou a fala, mas Dale Cooper e o xerife Truman dirigem-se ao seu quarto de hospital para tentar, ao menos, uma identificação positiva do suspeito com base no retrato falado do homem que apareceu na visão de Sarah Palmer.


O primeiro episódio desta segunda temporada de Twin Peaks concentrou-se principalmente em recapitular o que aconteceu nos momentos finais da temporada anterior, dando solução apenas ao seu principal cliffhanger e deixando a trama praticamente suspensa.

Como este episódio – dirigido por David Lynch e com roteiro de Harley Peyton – tira a história do seu estupor, fica a impressão de que com alguns cortes o início desta segunda temporada poderia ser condensado em um único capítulo.


A diferença entre o que uma pessoa realmente é e o papel que ela representa diante da sociedade é um tema constante em Twin Peaks. De Laura Palmer ao xerife Truman, todos da pequena cidade têm um segredo. O único personagem que até então nunca teve nada para esconder é Dale Cooper, mas uma notícia envolvendo Windom Earle, seu ex-parceiro no FBI, deixa o agente especial consternado, mostrando que até mesmo o bom moço possui seus segredos.

O tema do duplo também aparece de forma mais sutil no dilema dos irmãos Jerry e Benjamin Horne: dos livros-razão da Serraria Packard que têm em mãos, qual dos dois devem queimar? O verdadeiro, que mostra a serraria tendo prejuízo, ou o falso? Como os irmãos têm 100% de certeza de que não têm certeza do que fazer, Benjamin dá uma solução: assar marshmallows!


Na investigação paralela dos detetives amadores adolescentes, Donna, que parou de emular o estilo femme fatale de Laura tão repentinamente quanto começou no episódio anterior, inicia suas atividades no programa voluntário Refeições sobre Rodas. Em uma de suas visitas, a jovem vai à casa da Sra. Tremont, uma mulher mais velha de saúde precária, que vive com o neto, um garoto estudante de mágica interpretado pelo clone filho de David Lynch.

A cena, que ecoa o curta The Grandmother de Lynch, eleva o bizarro e a estranheza da série quase ao ponto da autoparódia, mas dá a deixa para a apresentação de um novo personagem que pode oferecer respostas a Donna: o recluso Harold Smith.


Frank Silva, um assistente de produção do episódio piloto, teve seu reflexo capturado de forma não intencional em uma cena, e o erro de gravação deu origem ao misterioso BOB. Antes de interrogar Ronette Pulaski, Cooper e Truman “lutam” para ajustar os bancos que utilizarão. A sequência, que é puro David Lynch, foi um problema real que os atores encontraram e que o diretor acabou incorporando no episódio, dando a ele um momento tão divertido quanto os afiados diálogos de Albert Rosenfield, estes “culpa” de Harley Peyton.

Não deixa de ser irônico que algumas cenas de Jar Jar Binks Andy Brennan, o assistente atrapalhado do xerife, sejam os momentos mais irritantes do episódio, de tão forçada que chega a ser a idiotice do personagem. Tudo bem que Twin Peaks seja uma cidade… peculiar, mas ter um agente da lei tão desastrado como Andy beira o absurdo.


Como é de se esperar em um episódio de Twin Peaks dirigido por David Lynch, os elementos sobrenaturais estão presentes. A cena da avó e seu neto citada anteriormente é a primeira na qual a realidade é desafiada, mas é quase no final do capítulo que as coisas ficam realmente estranhas.

Em um encontro do Major Briggs, Cooper descobre que o militar participa de um projeto do governo que intercepta sinais de rádio do espaço, a fim de captar qualquer mensagem de origem extraterrestre. Entre o lixo “ouvido”, o major encontrou uma mensagem que deve ser repassada ao agente do FBI como indicado pela enigmática Mulher do Tronco: “As corujas não são o que aparentam”.


Pouco depois do momento Arquivo X, o estranho dá lugar ao terror, em uma cena que começa com um humor totalmente involuntário: o trio James, Donna e Maddy gravando uma canção na sala de estar dos Haywards... Do falsete etéreo de James Marshall – sim, a voz irritante é mesmo a do ator – à falta de sincronia na dublagem, nada funciona. Entretanto, fica clara a intenção do diretor: mostrar como James, apaixonado por Donna, está ficando interessado em Maddy por esta ser idêntica à sua ex-namorada, a bad girl Laura Palmer.

O momento de calmaria é interrompido por uma esperada cena de ciúmes de Donna, mas o ambiente realmente pesa quando Maddy, sozinha em um canto da sala, vê o assustador BOB entrando na casa e caminhando em sua direção. Como este homem tenebroso até então só apareceu em sonhos e visões, fica a dúvida: será que ele realmente existe? Ronette reconheceu seu retrato falado, assim como Leland Palmer, que lembra de tê-lo visto em Pearl Lakes, na casa vizinha à do avô. Será que Cooper conseguirá capturá-lo?

- Ouvindo: Martin Courtney - Northern Highway