“Onde o creme de milho se encaixa no funcionamento do universo? O que realmente é creme de milho? Um símbolo para outra coisa?”
– Mulher do Tronco
Ronette Pulaski, a única sobrevivente do serial killer que vitimou Teresa Banks e Laura Palmer, acordou do coma pouco mais de uma semana após ter sido encontrada vagando pela linha do trem, completamente em choque.
A garota ainda não recuperou a fala, mas Dale Cooper e o xerife Truman dirigem-se ao seu quarto de hospital para tentar, ao menos, uma identificação positiva do suspeito com base no retrato falado do homem que apareceu na visão de Sarah Palmer.
O primeiro episódio desta segunda temporada de Twin Peaks concentrou-se principalmente em recapitular o que aconteceu nos momentos finais da temporada anterior, dando solução apenas ao seu principal cliffhanger e deixando a trama praticamente suspensa.
Como este episódio – dirigido por David Lynch e com roteiro de Harley Peyton – tira a história do seu estupor, fica a impressão de que com alguns cortes o início desta segunda temporada poderia ser condensado em um único capítulo.
A diferença entre o que uma pessoa realmente é e o papel que ela representa diante da sociedade é um tema constante em Twin Peaks. De Laura Palmer ao xerife Truman, todos da pequena cidade têm um segredo. O único personagem que até então nunca teve nada para esconder é Dale Cooper, mas uma notícia envolvendo Windom Earle, seu ex-parceiro no FBI, deixa o agente especial consternado, mostrando que até mesmo o bom moço possui seus segredos.
O tema do duplo também aparece de forma mais sutil no dilema dos irmãos Jerry e Benjamin Horne: dos livros-razão da Serraria Packard que têm em mãos, qual dos dois devem queimar? O verdadeiro, que mostra a serraria tendo prejuízo, ou o falso? Como os irmãos têm 100% de certeza de que não têm certeza do que fazer, Benjamin dá uma solução: assar marshmallows!
Na investigação paralela dos detetives amadores adolescentes, Donna, que parou de emular o estilo femme fatale de Laura tão repentinamente quanto começou no episódio anterior, inicia suas atividades no programa voluntário Refeições sobre Rodas. Em uma de suas visitas, a jovem vai à casa da Sra. Tremont, uma mulher mais velha de saúde precária, que vive com o neto, um garoto estudante de mágica interpretado pelo
A cena, que ecoa o curta The Grandmother de Lynch, eleva o bizarro e a estranheza da série quase ao ponto da autoparódia, mas dá a deixa para a apresentação de um novo personagem que pode oferecer respostas a Donna: o recluso Harold Smith.
Não deixa de ser irônico que algumas cenas de
Como é de se esperar em um episódio de Twin Peaks dirigido por David Lynch, os elementos sobrenaturais estão presentes. A cena da avó e seu neto citada anteriormente é a primeira na qual a realidade é desafiada, mas é quase no final do capítulo que as coisas ficam realmente estranhas.
Em um encontro do Major Briggs, Cooper descobre que o militar participa de um projeto do governo que intercepta sinais de rádio do espaço, a fim de captar qualquer mensagem de origem extraterrestre. Entre o lixo “ouvido”, o major encontrou uma mensagem que deve ser repassada ao agente do FBI como indicado pela enigmática Mulher do Tronco: “As corujas não são o que aparentam”.
Pouco depois do momento Arquivo X, o estranho dá lugar ao terror, em uma cena que começa com um humor totalmente involuntário: o trio James, Donna e Maddy gravando uma canção na sala de estar dos Haywards... Do falsete etéreo de James Marshall – sim, a voz irritante é mesmo a do ator – à falta de sincronia na dublagem, nada funciona. Entretanto, fica clara a intenção do diretor: mostrar como James, apaixonado por Donna, está ficando interessado em Maddy por esta ser idêntica à sua ex-namorada, a bad girl Laura Palmer.
O momento de calmaria é interrompido por uma esperada cena de ciúmes de Donna, mas o ambiente realmente pesa quando Maddy, sozinha em um canto da sala, vê o assustador BOB entrando na casa e caminhando em sua direção. Como este homem tenebroso até então só apareceu em sonhos e visões, fica a dúvida: será que ele realmente existe? Ronette reconheceu seu retrato falado, assim como Leland Palmer, que lembra de tê-lo visto em Pearl Lakes, na casa vizinha à do avô. Será que Cooper conseguirá capturá-lo?
- Ouvindo: Martin Courtney - Northern Highway