Desde o incêndio na boate Elk's, em 1959, que Twin Peaks não vê tanta ação: Dale Cooper e o barra-pesada Leo Johnson foram baleados; Jacques Renault, até então um dos suspeitos de matar Laura Palmer foi assassinado; a Serraria Packard pegou fogo, deixando Shelly Johnson e Pete Martell intoxicados com a fumaça, além de Catherine Martell desaparecida; para terminar, Nadine entrou em coma após uma tentativa de suicídio por overdose de calmantes.
Joseph Fink, um dos criadores do divertido Welcome to Night Vale, disse em uma entrevista ao influente Pop Culture Happy Hour que não há como você tratar o estranho como um quebra-cabeças a ser resolvido, pois a solução pode acabar sendo decepcionante como em Lost. David Lynch, que nunca gostou de explicar o sentido por trás de suas obras, por mais crípticas que fossem, encheu Twin Peaks de elementos bizarros, e eles são o que são e não precisam de explicação; o maior mistério da série, inclusive, nunca teria desfecho, como sabem bem os três leitores deste blog. Mas não era bem isso que os espectadores queriam...
A primeira temporada de Twin Peaks foi rodada livre das expectativas do público e da pressão da emissora, mas, ainda assim, nota-se um ímpeto dos roteiristas e diretores convidados em fazerem a história andar em um ritmo maior do que David Lynch, afastado da série por conta das filmagens de Coração Selvagem, gostaria. O maior exemplo disso é o season finale dirigido por Mark Frost, com sua quantidade um pouco exagerada de cliffhangers.
O início da segunda temporada de Twin Peaks tem Lynch de volta ao comando, e o resultado não poderia ser mais... arrastado. Isso não quer dizer que o episódio seja ruim, mas o ritmo é completamente diferente do esperado. A primeira cena, inclusive, estende-se por quase 10 minutos, deixando clara a mensagem do diretor: não adianta ter pressa.
Apesar deste primeiro episódio ter resultado em uma queda na audiência – diz a lenda que metade dos espectadores mudou de canal antes do final –, o retorno de David Lynch a Twin Peaks é muito positivo, pois com ele voltam os elementos mais marcantes e definidores da série: o humor que transita entre o sarcasmo e o puro pastelão, as situações bizarras, o sobrenatural e até mesmo o terror, estes dois últimos deixados um pouco de lado pelos roteiristas e diretores da primeira temporada.
Como já havia acontecido antes, as pistas mais importantes da investigação de Cooper vêm do sobrenatural, neste caso o contato que o agente tem com o Gigante, um personagem tão importante para a mitologia da série quanto o bizarro homenzinho de terno vermelho que fala ao contrário.
Apesar do ritmo mais lento e de momentos absurdos como a mudança repentina de personalidade de Donna, percebida e reforçada pela reação de outros personagens ao fato, este primeiro episódio é um dos melhores da série e abre a segunda temporada em grande estilo. É uma pena que o nível não foi mantido, mas essa conversa fica para os próximos capítulos.
- Ouvindo: Beat Happening - Cast a Shadow