14 de março de 2016

De Volta a Twin Peaks - Segunda Temporada, Episódio 5

De Volta a Twin Peaks - Segunda Temporada, Episódio 5

“Você quer saber qual é o segredo definitivo? Laura sabia. O segredo é saber quem matou... você!”

Em 2 de março de 1989 Audrey Horne infiltrou-se no cassino/bordel One-Eyed Jack’s à procura de provas do assassino de Laura Palmer. Antes de embarcar em sua missão, a jovem deixou um bilhete para Dale Cooper, mas o agente acabou esquecendo-se do recado em função de acontecimentos que culminaram com um atentado à sua vida.

Em sua investigação, Audrey descobriu que seu pai é o dono do local e tem o hábito de “entreter” as novas garotas, dentre as quais Laura, que teve uma curta carreira no cassino/bordel por conta do seu problema com drogas.

O preço a pagar pela brincadeira de espiã foi alto, e Audrey viu-se transformada em peão de uma conspiração que visa tanto o assassinato de Cooper quanto a tomada do One-Eyed Jack’s das mãos de Benjamin Horne.

Cinco dias depois de Audrey ter atravessado a fronteira canadense rumo ao One-Eyed Jack’s, Cooper encontra, finalmente, o bilhete deixado pela garota. Chegou, então, a hora de resgatá-la das mãos de Blackie e Jean Renault.


Escrito por Barry Pullman e dirigido por Graeme Clifford, dois estreantes em Twin Peaks, este episódio segue a fórmula do anterior, de mover para segundo plano a investigação do assassinato de Laura Palmer, com uma diferença: você não fica com a impressão de que está sendo enrolado.

Pelo assassinato de Jacques Renault, Leland Palmer tem sua primeira audiência com o juiz Clinton Sternwood, interpretado pelo veterano Royal Dano. Sternwood é uma espécie de proto-Cooper pela espiritualidade alternativa e perspicácia vistas apenas no agente do FBI, mas ele também tem um quê de Harry Truman, quando comenta sobre a estranheza dos bosques que cercam Twin Peaks. Seria Clinton Sternwood um antigo Bookhouse Boy? Não parece algo tão improvável.


Como Leland adquiriu um comportamento bastante errático e meio maníaco desde a morte da filha, é de se imaginar que a audiência seja tomada (e interrompida) por momentos bizarros. Mas o réu não sai dançando ou coisa do tipo; o procedimento, inclusive, é bem direto, e o juiz acaba concedendo liberdade provisória a Leland após um curto depoimento do xerife Truman.

O inusitado, entretanto, fica por conta do excêntrico local escolhido para condução da audiência: o pub Roadhouse, com seu palco de cortinas vermelhas e interior pouco iluminado. Para o pouco convencional juiz Sternwood, não deve haver corte melhor do que essa, onde as pausas para deliberações se dão no balcão do bar, devidamente acompanhadas de uma dose de Black Yukon.


Diferente do tranquilão Clinton Sternwood, que não está com tanta pressa para julgar Leland Palmer ou o vegetal Leo Johnson, Donna está ansiosa para descobrir o que Laura escreveu em seu diário secreto, e para isso faz um acordo com Harold Smith: em troca do direito de ler o diário da amiga, Donna contará sua história ao esquisitão, em uma analogia nem um pouco sutil à entrega de uma vida por outra.

Cooper também é outro disposto a entregar sua vida para salvar a de Audrey. A diferença é que Jean Renault parece, com seu punhal retrátil à la Assassin’s Creed, bem mais perigoso que o pacato Harold Smith. Nem precisa dizer que em Twin Peaks as aparências enganam…


Ao manter a investigação principal em banho-maria, esse episódio mostra que David Lynch e Mark Frost não estavam errados de querer deixar o mistério perdurar para desenvolver outras histórias, pois algumas funcionam bem. O problema é saber escolher as realmente interessantes e dar a elas o ritmo certo, coisas que, felizmente, Barry Pullman e Graeme Clifford souberam fazer.

- Ouvindo: Beliefs - Leaper