Saudações, meus amigos. Todos estamos interessados no futuro, pois é lá que passaremos o resto de nossas vidas. Lembrem-se meus amigos, eventos como estes irão afetá-los no futuro!
Vocês se interessam pelo desconhecido, pelo misterioso e inexplicável. É por isso que vocês estão aqui. E agora, pela primeira vez, nós trazemos a vocês a história completa do que aconteceu naquele dia fatídico! Damos a vocês todas as evidências baseadas unicamente no depoimento das almas miseráveis que sobreviveram a esse terrível calvário.
Os incidentes, os lugares... Meus amigos, não podemos manter isso em segredo por mais tempo. Punamos os culpados, recompensemos os inocentes! Meus amigos, podem vossos corações suportar os fatos chocantes sobre… LADRÕES DE TÚMULOS DO ESPAÇO SIDERAL?!!
Considerado o pior filme de todos os tempos, Plan 9 From Outer Space (Plano 9 do Espaço Sideral) é uma produção de 1956, que conta a história de uma invasão alienígena na qual cadáveres são reanimados para atuar como soldados da frente de batalha extraterrestre. O motivo: impedir a humanidade de desenvolver uma arma que destruirá o universo!
Uma das peculiaridades do filme é o fato de que Béla Lugosi, famoso por imortalizar o Drácula no cinema e falecido antes das filmagens, aparece em cena. A jogada foi uma artimanha do diretor Ed Wood, que utilizou trechos do inacabado Tomb of the Vampire para prestar uma última homenagem ao amigo e ainda aproveitar a fama do ator para levar os fãs de terror às salas de projeção.
Costurar as imagens de Béla Lugosi, vestido de vampiro, com um filme de invasão alienígena foi fácil, através da narração de Criswell. Um problema, entretanto, surgiu quando novas tomadas com o ator se fizeram necessárias para completar a história. A solução? Utilizar um dublê, Tom Mason, que aparece em cena sempre com a capa em frente ao rosto, em uma performance no mínimo hilária.
Diferente do que se pode imaginar, o jogo não é uma adaptação do clássico de Ed Wood. Lançado em 1992 para DOS, Amiga e Atari ST, o adventure se passa nos bastidores da produção de um filme, e coloca o jogador no comando de uma investigação cujo objetivo é recuperar seis rolos de filme extraviados, para devolvê-los ao seu contratante, um diretor casca-grossa que é a cara do Tor Johnson, um dos atores de Plan 9 From Outer Space.
A jogabilidade é o tradicional point-and-click, na qual verbos – incluindo o incomum Hit (Bater) – são combinados a objetos e personagens para realizar determinada ação. Diferente dos adventures tradicionais da LucasArts e Sierra, a visão é em primeira pessoa. O problema é que a janela principal ocupa uma área tão pequena da interface, que a impressão que se tem é a de estar vendo o mundo através do visor da uma máscara de solda, como os alienígenas de Space Zombie Bingo!!!.
Apesar do point-and-click, da interface gráfica e coisa e tal, Plan 9 From Outer Space está muito mais para uma interactive fiction do que um adventure. As cenas são praticamente estáticas, com raras (e toscas) animações, e tudo que acontece no jogo é descrito na parte inferior da tela. Esse recurso, entretanto, não parece uma opção de design, mas pura preguiça, pois uma coisa que seria resolvida com uma divertida e rápida animação vira um texto sem graça que acaba passando batido em meio a tanta informação.
Pelos motivos errados, é bom lembrar, Plan 9 From Outer Space é um filme bem engraçado de assistir, e isso certamente motivou um jogo mais voltado para o humor. Algumas sacadas, como a insistência em quebrar a quarta parede ou o fato de que quase todos os personagens masculinos são iguais ao Tor Johnson e as personagens femininas iguais à Vampyra, são estranhas, repetitivas e o pior: não combinam com o clima de suspense da cansativa trilha sonora.
Muitos dos puzzles são totalmente ilógicos. Um exemplo: ao viajar para um Brasil no qual se usa poncho e todos falam espanhol, e a moeda corrente tem o nome de "peso", você deve entrar em uma caverna lotada de morcegos vampiros para recuperar um dos rolos de filme. Se não estiver de posse de uma foto do Béla Lugosi, você é atacado pelos morcegos vorazes e morre, dando fim ao jogo! Para piorar, em um jogo praticamente estático, existe ainda a surpresa de se deparar às vezes com puzzles temporizados e sem chance de repetição. Ou seja: deu bobeira e não resolveu aquela hora, nunca mais!
Mais irritantes, entretanto, são os inúmeros bugs do jogo. Um deles é a impossibilidade de pegar algum item porque o inventário está supostamente cheio, descartar algumas coisas e ainda assim não conseguir. Outro, que poderia ser uma questão de design, mas que parece muito mais um erro de programação, se dá quando você escolhe uma opção que finaliza um diálogo, e não consegue mais conversar com o NPC, para obter determinada informação ou item essencial.
Plan 9 From Outer Space é um jogo implacável pelos motivos errados, como o filme que o inspirou é engraçado sem querer. Qualquer detalhe deixado para trás ou ação feita fora da sequência esperada, e você fica impossibilitado de terminá-lo, pois os bugs e o design preguiçoso não deixarão.
Mesmo para a época – o jogo é contemporâneo de Indiana Jones and the Fate of Atlantis – não há justificativa para a trilha sonora repetitiva, a jogabilidade tosca e os gráficos feiosos. Não é o pior adventure de todos os tempos, mas certamente é um dos mais malfeitos.
Por gostar do filme – ele é muito divertido – e de adventures, encarei o jogo achando que ia me divertir. Acabei passando raiva.
- Ouvindo: Dinosaur Jr. - Watch The Corners