Tennyson Middlebrook é um garoto de 10 anos que vive com o pai, um viúvo alcoólatra, rude e amargo, que despreza o interesse do filho por literatura. Amor na vida de Tennyson só existe na amizade que tem com Allison, sua vizinha de mesma idade, com quem passa a maior parte do tempo livre.
Revoltas explodem na Ásia à medida que tempestades de poeira atingem o continente; a imagem de um homem saltando de um prédio, para explodir em uma nuvem de partículas bem antes de atingir o chão, toma o noticiário, mas ele não é o único; um fungo desconhecido tem se espalhado, provocando mutações e mortes bizarras; o mundo ao redor destas crianças está mudando.
Paralela a essa história de uma realidade em colapso, conhecemos Lil'it. Ela vive em um mundo medieval onde toda a informação é controlada. O mero ato de possuir um livro é considerado crime nesta terra habitada por humanos deformados, que tratam Lil'it e os seus semelhantes como meros animais de estimação.
Lil'it era uma garota que não se lembrava de nada, e então ela se lembrou de tudo.
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Escrito pelo autor independente Martin Kee, Bloom conta a história de um apocalipse em andamento, ao mesmo tempo que apresenta o mundo fantástico e bruto de Lil'it. Elementos de ficção científica e até mesmo um pouco de steampunk são costurados às duas tramas, mas em nenhum momento eles parecem forçados.
A dinâmica de Tennyson e Allison, no início da história, tem uma pegada leve mas melancólica, com um quê de Kevin Arnold e Winnie Cooper em Anos Incríveis. São personagens cativantes, que você deseja ver juntos em meio ao caos que se instala lentamente, mas que acabam separados no meio da adolescência.
No futuro, um Tennyson já adulto resolve voltar à cidade em que viveu para tentar reencontrar Allison. Ele viaja acompanhado de Meg, uma garota de 15 anos, que não tem idade suficiente para se lembrar do mundo como ele um dia foi. Os motivos que movem os personagens são diferentes, mas a semelhança com a jornada de Joel e Ellie em The Last of Us é bem evidente para passar batida.
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Martin Kee não consegue escapar de clichês, e em vários momentos é possível antecipar alguns acontecimentos do livro. O maior mérito do autor, entretanto, é terminar cada capítulo com um cliffhanger que faz o leitor ansiar por mais. Como os capítulos de Tennyson e Lil'it intercalam-se, não raros são os momentos em que você se pega tentado a pular um ou outro para saber o que acontece a seguir.
Diferente de Wool (Silo) e The Martian (Perdido em Marte), outras obras de autores independentes, Bloom não foi traduzido para o português. Ainda assim, é uma boa pedida para quem quer fugir dos apocalipses abarrotados de zumbis ou conhecer um mundo medieval povoado por mutantes.
Quem é de Kindle pode encontrar o livro (em inglês, vale lembrar) na Amazon.
- Ouvindo: Father John Misty - I'm Writing a Novel