14 de dezembro de 2015

De Volta a Twin Peaks - Primeira Temporada, Episódio 7 (Season Finale)


Twin Peaks é uma cidade pequena localizada ao norte do estado de Washington, na fronteira dos EUA com Canadá. Há uma semana, a rotina dos seus 51.201 habitantes foi virada ao avesso com a descoberta do corpo de Laura Palmer às margens do rio, enrolado em plástico.

Laura Palmer era uma garota de 17 anos que, como tantos outros na cidade, vivia uma vida dupla. Muitos conheciam seu lado de boa moça – alguns chegavam até mesmo a chamá-la de "Santa Laura", pelo seu envolvimento voluntário em programas como o Refeições Sobre Rodas, por exemplo –, mas poucos estavam familiarizados com seu histórico de vício em cocaína e envolvimento com prostituição, ambos frutos de um lado obscuro corrompido pelo mal que habita a floresta ancestral de Twin Peaks.

De uma longa lista de suspeitos, apenas dois ainda permanecem sob a mira da polícia: o traficante Jacques Renault e o violento caminhoneiro Leo Johnson, com os quais Laura esteve na noite em que foi assassinada. Um terceiro homem também pode estar envolvido no crime, mas os investigadores nada sabem a seu respeito. Seria ele BOB, o homem de cabelos brancos visto por Sarah Palmer?

Há quem possa justificar a morte de Laura Palmer em função do seu estilo de vida, mas o fato é que a jovem foi vítima de um serial killer. Por uma questão de jurisdição, a investigação do crime ficou a cargo do FBI, representado por Dale Cooper, um agente de metodologias incomuns, obcecado por café e tortas de cereja, que se infiltra no cassino/bordel canadense One-Eyed Jack's para encontrar Jacques Renault.


Em seu prefácio para o livro The Secret Diary of Laura Palmer, Mark Frost comenta que a primeira temporada de Twin Peaks foi rodada em uma empreitada de 18 meses, sem pressão da emissora e em completo isolamento do público, pois a série ainda não havia estreado. Essa liberdade pode ser percebida no ritmo lento com o qual a história se desenrola; até mesmo as tramas mais secundárias, como a de Nadine, ganham espaço para serem desenvolvidas.

Nota-se também, na conclusão desta primeira temporada, que a influência de David Lynch vai, além da estética americana retrô, mais na linha dos elementos esotéricos e do clima onírico associados à série; a estranheza dos habitantes de Twin Peaks, por sua vez, parece mais "culpa" de Mark Frost, como pode ser visto no diálogo entre a Mulher do Tronco e Dale Cooper, no quinto episódio.


Esse season finale foi escrito e dirigido por Mark Frost. Como era de se esperar, muitos assuntos são resolvidos, mas alguns outros cliffhangers são lançados. Dizem que a estratégia de deixar muita coisa no ar foi uma isca para que a série fosse renovada, o que de fato aconteceu no dia seguinte à exibição do sétimo episódio.

Diferente dos episódios até então, neste capítulo o enredo não transcorre durante um período de aproximadamente 24 horas. A ação começa na noite do dia 2 de março de 1989, ainda no desenrolar dos eventos iniciados no episódio anterior, e segue até as primeiras horas do dia seguinte. É um curto espaço de tempo, mas este sétimo episódio tem um ritmo mais lento, que faz com que ele pareça durar mais que os outros.


O episódio final da primeira temporada de Twin Peaks ainda deixa no ar muitos cliffhangers, como os tiros recebidos por Cooper na porta do seu quarto de hotel, a tentativa de suicídio de Nadine e a possível morte de Shelly e Catherine Martell no incêndio da serraria. É um final de muitos dramas, digno das mais trágicas novelas mexicanas, com bastante impacto para quem assiste à série pela primeira vez. Para quem já conhece o que acontece a seguir, é um episódio consistente, o único dirigido por Mark Frost, que não consegue rivalizar com o clima de tensão do anterior, do qual é continuação imediata.

- Ouvindo: Sharon Van Etten - Taking Chances

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