19 de maio de 2017

Press Start - Thimbleweed Park

Press Start - Thimbleweed Park

1987...

Um corpo jaz às margens do rio que passa por uma pequena cidade cheia de gente estranha; o FBI assume a investigação. Os sinais estão muito fortes esta noite... Twin Peaks? Não. Thimbleweed Park.

Os sinais estão muito fortes esta noite...

Press Start - Thimbleweed Park

Lançado em 30 de março, Thimbleweed Park é uma aventura gráfica criada por ninguém menos do que Ron Gilbert e Gary Winnick, os pais de Maniac Mansion, do qual o jogo é um autêntico sucessor espiritual. Outros membros da equipe de 8 pessoas também trabalharam na LucasArts: David Fox, o criador de Zak McKracken and the Alien Mindbenders, e Mark Ferrari,o artista responsável pelos cenários de The Secret of Monkey Island.

Foram 2 anos de desenvolvimento, fruto de uma campanha bem sucedida no Kickstarter com quase 16.000 apoiadores, entre eles este humilde resenhista. O processo todo, do desenvolvimento do engine ao lançamento do jogo, foi documentado no blog do projeto, e até mesmo as reuniões entre os membros da equipe foram disponibilizadas na forma de podcast, num esforço de deixar os apoiadores (e curiosos) bem informados.

O blog do projeto também serviu de plataforma para colaboração dos leitores que, apesar de não interferirem diretamente no design, contribuíram com conteúdo para o jogo. Isto se deu na forma dos milhares - 1.084, para ser preciso - de livros espalhados pela biblioteca da mansão Edmond Mansion e nos títulos de outros milhares de exemplares da livraria de ocultismo. Apoiadores, como previsto na campanha do Kickstarter, puderam gravar mensagens de voicemail que o jogador escuta quando tecla alguns números do catálogo telefônico de Thimbleweed Park.

Press Start - Thimbleweed Park

Qualquer um que já jogou The Secret of Monkey Island ou qualquer outro título point-and-click - gênero inventado por Ron Gilbert há 25 anos, com Maniac Mansion - como as aventuras gráficas desenvolvidas na LucasArts até 1993, sabe como Thimbleweed Park funciona: à disposição do jogador existem verbos e um inventário. Combinando essas ações e itens, soluciona-se puzzles.

À disposição do jogador existem 5 personagens: os agentes Ray e Reyes, o palhaço boca suja Ransome, a desenvolvedora de jogos Delores e o fantasma Franklin. Cada um tem suas motivações próprias e todos contribuem para a conclusão da história, mas cada um tem, também, um final individual opcional.

Como já aconteceu em Maniac Mansion e Zak MacKracken, apenas para citar os exemplos mais antigos, em alguns momentos é necessário utilizar 2 personagens simultaneamente, mesmo que em lugares diferentes, para contornar situações. No geral, entretanto, a interação entre eles limita-se apenas à troca de itens, que rendem alguns diálogos divertidos.

Press Start - Thimbleweed Park

Thimbleweed Park foi feito para parecer um jogo perdido da LucasArts, com modernos gráficos pixelados e um estilo visual que lembra muito o de Maniac Mansion. Inclusive, alguns personagens do predecessor dão as caras, nem que sejam como easter eggs, o que coloca os dois jogos no mesmo mundo bizarro de tentáculos gigantes, encanadoras fantasiadas de pombo e vasos sanitários movidos a futuristas tubos de vácuo.

O humor, tão presente nos jogos de Ron Gilbert, faz presença, obviamente, mas é uma coisa mais sutil, irônica. Piadas internas também abundam, mas a última atualização do jogo permite que os mais emburrados desabilitem-nas. Outra coisa comum nos títulos de Gilbert, a quebra da quarta parede, dá as caras, mas aqui ela tem um propósito maior do que fazer graça. Novidade, entretanto, são os sustos, feitos apenas para nos lembrar que em Thimbleweed Park um cadáver é o menor dos nossos problemas.

Press Start - Thimbleweed Park

De maneira semelhante a The Secret of Monkey Island, Thimbleweed Park é dividido em atos, sendo 7 no total, e cada um só finaliza quando determinada situação é resolvida pelo jogador. Essas situações chave, entretanto, não ficam muito claras, visto que cada personagem possui uma extensa lista de coisas a fazer.

Os puzzles, em sua maioria, são bem lógicos, mas os lugares e personagens a encontrar são tantos, que você acaba esquecendo de revisitá-los. É tanta informação que eu cheguei, inclusive, ao ponto de esquecer de um dos personagens jogáveis nas 2 vezes - modo hard e casual - que completei o jogo.

O maior dificultador de Thimbleweed Park, entretanto, está ligado às citadas listas de coisas a fazer. Todos os personagens jogáveis possuem uma coleção de tarefas que devem ser completadas até o final do jogo, mas é muito obscuro o momento que podemos ou não dar sequência a elas. Não é raro você perder tempo tentando cumprir um dos itens, para descobrir depois que ele dependia de um evento ocorrido no ato seguinte.

Press Start - Thimbleweed Park

Thimbleweed Park remete aos antigos jogos da LucasArts, tem referências descaradas de Twin Peaks e Arquivo X, com direito a uma dupla de agentes do FBI que poderia ser substituída facilmente por Mulder e Scully, e faz muito fan service, mas vai além disso, entregando personagens interessantes e situações divertidas. Não é à toa que seu final, depois de tanta loucura, acaba soando meio melancólico, pois você quer passar mais tempo naquela pequena cidade esquisita de habitantes mais estranhos ainda.

Pode ser que Ron Gilbert e companhia tenham apertado os botões certos para me fazer gostar do jogo, mas o fato é que ele ficou, para mim, como uma das melhores aventuras gráficas que eu já encarei e vou, certamente, encarar novamente.

- Ouvindo: Kelley Stoltz - Kim Chee Taco Man

Nenhum comentário: